Por entre as
montanhas ando
escondido em um vale
perdido
Tranqüilo quase que
num cochilo, mas
sempre em frente
Vou saudoso levando
minhas águas
cristalinas
Às vezes
corredeiras, e
recordando das
cachoeiras que já
passei
Onde em lágrimas
muitos véus de
noivas eu deixei
Lembrando da minha
cabeceira, palco de
amores que enganei
Leito onde beijei
sinuosas margens e
deixei tatuagens
Cupidas marcas em
ramos que jamais
quebrei
Às vezes sou
caudaloso e com
força um tanto
tenebroso
Mas nada de furioso,
pois sei que algumas
pedras arranquei
Sem maldades, para
tanto, não tenho
mais idade
Mas às vezes na
cruzada, roubo a
melhor flor de uma
folhagem
Para misturar em
minhas águas o seu
aroma selvagem
Na chuva me regozijo
num salpicar de
gotas
Refrescante dilúvio
para o calor que
sinto
Por vezes meu dorso
anda exposto ao sol
a pino
Em muitas outras de
alegria transbordo
Transformando em
terra fértil a tudo
o que molho
E nas planícies por
onde escorro, vou
regando as pastagens
Este verde que me
acolhe quando
deslizo por entre as
matas
Onde meu murmúrio
silencia ante a
sinfonia dos
pássaros
Que em coral de
glória cantam bravo
à minha passagem
Em muitos braços me
abro, e em desabafo
formo tentáculos
São muitas outras
margens que abraço
por onde passo
Em rio único volto
ao meu curso e
discurso ao mar a
frente
Estou chegando e com
alegria anuncio a
minha aproximação
E num doce beijo
molhado a água fica
salgada
Agora sou oceano, um
gigante em águas
Não ando mais
escondido
por entre as
montanhas em um vale
perdido...
De agora em diante
beijarei todas as
costas
E mansamente em
ondas vou rolar na
areia morna das
praias
Aproveitando a magia
e a beleza da mãe
natureza
Deste fraterno
encontro das águas
Cândido Pinheiro
26 Janeiro 2004
Santa Maria - RS -
Brasil
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autor
http://www.familiaborbapinheiro.com
(publicação com
autorização do
autor)
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